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Escrevo porque a alma implora, a ilusão roga e a imaginação exige. Mas, acima de tudo, escrevo porque me agonia guardar todas estas palavras no imo...

Um pouco mais sobre mim...

Thursday, December 09, 2004

Velho Apeadeiro

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Acordei hoje com uma enorme sensação de impotência. Há dias assim! Os cheiros, as cores, as texturas, os sabores… Tudo parecia tão enraizado, tão impossível de ser transformado. Nem tentei lutar contra o improvável. Saí!

O cabelo desgrenhado caía desajeitadamente sobre os ombros. As roupas velhas tresandavam a mofo. Aos sapatos gastos não era oferecido qualquer atrito pelas pedras da calçada. Passo após passo, conduzida pelo instinto, fui seguindo na direcção das respostas às minhas perguntas. Não posso afirmar tê-las encontrado, mas quando reparei naquela estação velha, a perder o estatuto para um simples apeadeiro, uma força estranha impeliu-me a descobrir-lhe o interior.

Lá dentro vi velhos que esperavam o fim dos seus dias. Sentados, conversavam sobre tudo e sobre nada. Riam em atitude despreocupada, pois estes vivem já com o descrédito no dia de amanhã. Já não acreditam que um dia melhor virá! Consegui ver para lá do que me foi permitido ver. Cada ruga fazia-me adivinhar o peso do mundo carregado para lá do olhar. Não evitei que uma ou duas lágrimas caíssem…

Saí daquela sala de espera feia, escura e com cheiro impregnado de urina, para vir descobrir os trilhos gastos. Os bancos de madeira estavam velhos e pouco seguros. Ainda assim não hesitei em ocupar o único que estava vazio. Antes de me sentar raspei um fósforo na parede até que este incendiasse de amarelo-fogo. Este foi um gesto demorado. Só depois percebi porquê: as paredes estavam cobertas com azulejos que mostravam costumes de antigamente. Por uns segundos desejei ter vivido nos dias de ontem. Os de hoje são demasiado ingratos. Infelizes as gerações vindouras…

Acendi o cigarro, olhei à minha volta, e detive o olhar num casal de adolescentes que namorava às escondidas, atrás de uma carruagem ferrugenta e abandonada. Não impedi que uma gargalhada cúmplice fosse solta dos meus lábios em direcção aos seus ouvidos. Aperceberam-se da presença de olhares alheios e correram de mãos dados…

Sentei-me. Não tardou que aparecesse um comboio velho que transportava pessoas velhas. Deti-me naquele lugar todo o dia. Vi o comboio transportar a mesma carruagem inúmeras vezes. Durante tantas horas, o comboio percorreu o mesmo trilho, como se não pudesse mudar a sua rota.

Então levantei-me e caminhei em direcção a casa. Havia encontrado possíveis respostas:

* Os velhos personificam o meu ego naqueles dias em que só me apetece desaparecer, nos dias em que até respirar é um exercício pesado, nos dias em que grito aos 4 ventos que não desejo mais viver…

* Os azulejos pintam a enorme vontade que me inunda mais vezes do que seria de desejar de voltar ao passado e lá viver; é o mais inconsciente desejo de voltar à infância quando tudo era tão simples como contas de somar 2+2=4…

* O casal apaixonado é um retrato do meu imo naqueles dias em que me encontro em inexplicável êxtase. Sou eu com uma enorme vontade de virar os meus dias ao contrário e viver a vida dos que sorriem…

* O comboio foi a imagem que me tirou do estado de inércia: aquela carruagem sou eu, insistindo trilhar os mesmos caminhos, desiludindo-me quando não encontro algo de novo. Mas esta carruagem pode ainda decidir mudar de rota!

Agora percebo! Tenho de me libertar das cordas que me detêm na busca do sorriso perdido. Tenho de seguir uma estrada diferente da que piso…

[Este texto não foi realidade. É uma imagem análoga do que por vezes vai cá dentro… É tornar efectivo o imaginário por onde a nossa mente passeia de quando em vez. Inspirei-me na musicalidade da belíssima Kate Walsh enquanto escrevia…]

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